terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O caso morte das tartarugas: o que é que eu tenho com isso ?



Ao passear pelas praias, sempre nos deparamos com alguns animais mortos, normalmente, peixes e alguns moluscos, e o nosso olhar, acostumado com este movimento natural da vida, não se surpreende.

No entanto, nos surpreendemos quando os indivíduos que encontramos não são aqueles que comumente aparecem pelo nosso caminho, como é o caso das tartarugas.
Sabemos que este olhar seletivo, fruto de nossa construção cultural que nos faz valorar e decidir que uns seres valem mais que outros, a que se atribuiu o nome de especismo eletivo, nos cega diante da vulnerabilidade, atributo de todos os seres.  Mas não é isto que está em jogo neste momento. Senão por uma questão.
Em apenas um final de semana em uma praia do litoral paranaense, três tartarugas da espécie “verde” nos propiciaram uma pequena aula sobre o que representa este movimento de vida e morte.
Cabe relatar que uma das tartarugas que encontramos, a qual, na nossa ingênua avaliação, ainda estaria viva, foi resgatada, a nosso pedido, pelo laboratório de mamíferos do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná,  para pesquisa. Esta e as demais, para nossa tristeza, já se encontravam mortas. Seriam tratadas se estivessem vivas.
E aí veio a aula.
A pesquisadora Camila Domit, coordenadora do Laboratório de Mamíferos do CEM – UFPR, nos explica: no Paraná, uma média de 200 exemplares de tartarugas são encontrados por ano, e 70% destes são da espécie verde, e os demais, da espécie cabeçuda. Ela informa que, no Brasil, as espécies mais encontradas são a verde, a de couro, a gigante, a de pente, a oliva e a cabeçuda.
Relata-nos a pesquisadora que estas mortes são bem comuns, o que não significa que sejam normais e que não possam ser evitadas.





Essas tartarugas morrem, principalmente, pela ingestão de lixo. Isso mesmo, minha gente: lixo! Ou porque sofrem uma constrição estomacal por se sentirem satisfeitas, saciadas e deixam de comer, morrendo de inanição ou porque sofrem machucaduras no intestino, que as levam à morte.
O outro motivo é a captura acidental pelas redes de pesca. Frisa bem a pesquisadora: são capturas acidentais porque não há uma intenção deliberada de pescar estas tartarugas.
Todavia, todos sabemos que a prática da pesca de arrasto, a pesca predatória, poderiam evitar estes incidentes. E o alto consumo de pescados (filé de peixe também é carne...) e outros frutos do mar geram uma demanda que é suprida pelas operações irresponsáveis.
Bem, depois desta aulinha sobre tartarugas, temos que pensar novamente: e o que é que eu tenho a ver com isso?
Você sabe aquele saquinho de supermercado que, por preguiça ou “só desta vez” ou “por que só eu?”, você insiste em aceitar? Lembra-se da garrafa de refrigerante que o seu vizinho na areia da praia largou para trás? E a latinha do refrigerante, da cervejinha. E mais, o filtro solar que acabou na praia? Pois é: a tartaruga comeu!
Fiz um teste no mesmo final de semana: delimitei uma área de 100 passos por 50 passos e peguei 5 sacos de lixo de 100 litros. Determinei que esse seria o meu limite para avaliar em quanto tempo eu encheria os sacos.
Em míseros 30 minutos, os 5 sacos estavam cheios até a boca: 32 tampinhas de plástico, 7 garrafas pet, 5 pés de sandálias de borracha, saquinhos e mais saquinhos, 2 frascos de filtro solar, pedaços de brinquedos, 2 garrafas de vidro. O resto, restos. Nossos restos.
Minha gente, as férias estão chegando: que a morte dessas tartarugas possa nos ensinar alguma coisa !


Atitudes dos bem:
1.    não aceite saquinhos plásticos nas suas compras: leve sua sacola retornável !
2.    recolha os saquinhos, latinhas, brinquedos e outros objetos que você encontrar na areia. Faça isto sem afrontar as pessoas no entorno. Seja um exemplo, não uma ameaça.
3.    traga de volta para casa o lixo reciclável que você gerar no litoral.
4.    cobre das autoridades políticas de educação ambiental, a coleta seletiva do lixo e a destinação adequada e apóie os Conselhos Comunitários e Associações locais.
5.    comunique os órgãos responsáveis a localização de animais mortos ou não que encontrar na faixa de areia (pingüins, tartarugas e outros).
6.    não apóie a pesca predatória.
7.    seja vegetariano !

Curta as férias respeitando a vida de todos os seres da natureza !

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Laelia Tonhozi é educadora ambiental, ativista na defesa dos direitos dos animais e milita no Movimento SOSBICHO, Curitiba, Paraná


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