quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Reforma da Natureza: uma reflexão sobre os limites da nossa prepotência


O LIVRO QUE VIAJA  -  José Marins*

     Minha mãe estudou o primário em uma escola rural, no interior de São Paulo. Foi uma menina que amava os estudos. Ela tem uma porção de histórias desse tempo. Contou que certa vez, veio à escola o Inspetor. Depois de examinar as condições de ensino, verificar os apontamentos da professora e os cadernos dos alunos, ele fez um concurso de redação. Leu todos os textos e escolheu o vencedor, a autora recebeu de presente um livro.
     Mamãe ganhou um pacote bem embrulhado que abriu às vistas dos colegas: um exemplar do livro A Reforma Da Natureza, de Monteiro Lobato. Em casa, todos ficaram felizes com a conquista da menina. O livro passou de mão em mão entre os parentes daquela enorme família. Não puderam mais tocar na novidade até que a dona terminasse a leitura e olhasse, pela milésima vez, as ilustrações.
     Vieram as solicitações de empréstimo, concedidas somente às amigas mais chegadas. O mais interessante foram os pedidos para que a dedicada aluna, fizesse a leitura do livro para os vizinhos analfabetos, moradores na colônia da fazenda de café. Na casa deles, a sala enchia de gente para ouvir a história engraçada trazida no livro, cuja fama correu a região. As sessões de leitura terminavam entre xícaras de café e pedaços de bolo de fubá.
     (Penso: deve ter sido aí o começo da vocação da professora em que se tornaria aquela mocinha faceira.)
     Ela contou-me essa história algumas vezes, mas nunca pôde mostrar-me aquelas gravuras, o livro fora incluído entre os itens perdidos nas muitas mudanças dela e meu pai, pioneiros do noroeste do Paraná.
     Um dia desses, encontrei o livro em um sebo de Curitiba, em perfeito estado. A Reforma Da Natureza, na mesma edição, algumas reimpressões adiante, a capa descrita por ela, as gravuras de André Le Blanc. Fiz um pacote de presente e depositei-o sobre o travesseiro, pouco antes de ela se recolher ao quarto das avós, quando veio nos visitar, vinda do interior.
     Ficou feliz com o presente. Não dormiu aquela noite, releu o livro da infância. Eu pensei que a história havia terminado. Que nada, momentos antes de viajar de volta à Umuarama, ela entregou-me o livro dizendo: Fique com ele. Será mais útil com você. Eu já o tenho guardado para sempre em minha memória.

* José Marins é poeta paranaense.



Esta é uma das capas de uma das edições



A reforma da natureza
Monteiro Lobato

Para Emília, o mundo está todo errado. Ela não entende por que a jabuticaba, uma fruta tão pequena, dá em árvores gigantescas e abóboras imensas nascem em pés esparramados pelo chão. Em A reforma da natureza, a boneca de pano decide reformar cientificamente plantas, animais e insetos e causa muitos problemas ao desrespeitar o equilíbrio do meio

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