sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Moradores de Curitiba querem mais árvores



Sexta-feira, 10/08/2012
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo / Osni e Placidina Wendt com um dos pinheiros plantados por eles – o único da Praça do AtléticoOsni e Placidina Wendt com um dos pinheiros plantados por eles – o único da Praça do Atlético
MEIO AMBIENTE

Eles querem mais árvores em Curitiba

Moradores agem por conta própria para tornar a capital paranaense mais arborizada

Há quem defenda que Curitiba não tem árvores em quantidade suficiente e decida partir para a ação e plantar mais. Na edição de ontem, a Gazeta do Povo mostrou quatro histórias de moradores que lutam para fincar novas mudas em canteiros públicos, praças e bosques ou que defendem cada planta, tentando impedir que alguma seja cortada. Hoje, mais quatro pessoas contam por que descruzaram os braços para garantir mais áreas verdes na cidade.
Ao notar que árvores eram cortadas e não eram repostas, a cozinheira aposentada Terezinha do Carmo Melo passou a agir. Afeita ao mundo das compotas e sobremesas, optou por plantar apenas árvores frutíferas. Já faz 15 anos que ela se sente responsável por tornar o Água Verde mais verde. Em um espaço minúsculo – de um metro quadrado –, nos fundos do apartamento, ela prepara as mudas. “De todas as frutas que a gente consumia em casa, eu guardava as sementes e os caroços. Foram caquis, mangas, cerejas”, diz. Nem todas viraram árvores – foram quebradas ou arrancadas, mas 37 se salvaram. Até hoje, só um pé de araçá deu frutos.
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo / Terezinha Melo cultiva mudas nos fundos do apartamentoAmpliar imagem
Terezinha Melo cultiva mudas nos fundos do apartamento
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Moradora das imediações da Arena da Baixada, Terezinha lamenta que as árvores sejam atacadas em dias de jogos. “Sou atleticana, mas fico chateada com meus colegas torcedores que descontam nas plantas quando o time perde”, reclama. Persistência é com ela. “Tem um lugar onde arrancaram a muda dez vezes e eu plantei de novo até vingar.” A cozinheira acredita que Curitiba é bem arborizada em comparação com outras cidades que conhece, mas ela quer mais. “Tem que ter mais ar puro, mais sombra”, resume.
Defensores dos pinheirais
O casal Osni e Placidina Wendt escolhe pinhões e coloca-os em caixinhas de leite cortadas pela metade cheias de terra. Por ano, mais de cem mudas de araucária são distribuídas a quem quer ter uma na praça próxima, na frente de casa ou mesmo no quintal. Placidina é a responsável pelo único pinheiro da Praça do Atlético. “Antigamente, tinha uns 30 lá, mas foram sendo cortados. Então plantei oito, mas apenas um vingou”, conta.
Osni se orgulha de uma araucária famosa. Quando foi diretor do Colégio Esta­dual do Paraná, em 1990, plantou uma ao lado do frondoso pinheiro que é um ícone do colégio. “O dia que o grande cair, haverá outro para marcar presença”, resume. Para o casal, se cada morador adotasse as árvores da sua rua, garantiríamos uma cidade mais arborizada. “Teria que ter ao menos duas araucárias em cada praça. Afinal de contas, somos a terra dos pinheirais”, diz Osni.
Longa espera
Depois de cinco meses pedindo o replantio de árvores no Bigorrilho, o ambientalista Tom Grando colocou uma muda de ipê roxo no local em que uma espécie exótica foi cortada pela prefeitura. Ele formalizou o pedido pelo menos três vezes e chegou a receber como resposta que as árvores haviam sido replantadas na quadra de sua casa. “Só se eram invisíveis”, ironiza. Como forma de protesto, “plantou” uma placa informando desde quando aguardava o replantio. Quando cansou de esperar, ele mesmo colocou uma nova muda na calçada. Grando reclama ainda que no lugar de árvores cortadas estão sendo “plantadas” calçadas e vagas de estacionamento.
20% dos cortes pedidos são autorizados
Por ano, a prefeitura de Curitiba recebe aproximadamente 12 mil pedidos de corte ou poda de árvores. Erika Mielke é a responsável por autorizar a execução da solicitação ou não. Ela conta que cerca de 20% dos pedidos são aceitos. A diretora do Departamento Municipal de Licenciamento Ambiental relata que a retirada da árvore só é aprovada em algumas situações, essencialmente quando há risco de queda. O corte é ainda liberado quando a poda não resolve o problema – caso de araucárias e palmeiras – e a rede elétrica pode ser afetada. Árvores com raízes que estejam causando danos estruturais também podem ser derrubadas.
Briga de vizinhos
Erika assegura que o fato de uma planta simplesmente provocar sujeira não é argumento suficiente para ser retirada. Não raro, ela relata que técnicos da prefeitura ficam no meio de uma briga de vizinhos – entre os que querem e os que não concordam com o corte. “O morador que não precisa juntar as folhas, não tem a calha entupida, não tem a calçada ou o muro quebrados, que da casa dele só vê a parte boa da árvore, não quer o corte”, conta.
Não é qualquer espécie que pode ser plantada
Os moradores não são proibidos de plantar árvores pela cidade, mas o diretor do Departamento de Produção Vegetal da prefeitura de Curitiba, José Roberto Roloff, pede que os interessados entrem em contato para receber orientações. “Seria importante ao menos que a gente indicasse que espécies plantar”, diz. Ele avisa que não é apropriado o plantio de árvores com frutos grandes – como abacateiros – ou araucárias e palmeiras – que não podem ser derrubadas – perto da rede elétrica.
Roloff conta que, além dos pedidos de corte feitos por moradores, equipes circulam pela cidade observando troncos inclinados ou doentes – que acabam sendo cortados. Ele assegura que a regra é, para cada árvore cortada, replantar uma muda no lugar – ou ao menos nas proximidades. O prazo de reposição seria, em média, de 15 dias. A prefeitura recebe cerca de mil pedidos de plantio por mês – esse também é o número de mudas que são recolocadas por mês. “Priorizamos espécies nativas e de porte menor, como ipê roxo-anão, pitangueiras e araçás”, diz.
Quinta colocação
A estimativa da prefeitura é de que existem 300 mil árvores nas margens de vias públicas em Curitiba. Quinze equipes (aproximadamente 150 pessoas) trabalham no serviço de plantio, poda, corte e recolhimento de resíduos. O investimento anual é de R$ 5 milhões. Mas Roloff reconhece que a cidade ainda não é suficientemente arborizada. No dia 25 de maio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um levantamento que aponta Curitiba como a quinta grande cidade mais arborizada do Brasil, atrás de Goiânia, Campinas, Belo Horizonte e Porto Alegre

Fonte: www.gazetadopovo.com.br

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