domingo, 19 de agosto de 2012

Pesquisadores do Paraná descobrem 15 novas espécies de sapos



Sérgio Morato/Divulgação
Sérgio Morato/Divulgação / As cores fortes indicam presença de toxinasAs cores fortes indicam presença de toxinas
FAUNA PARANAENSE

Quinze novas espécies de sapos à espera de “batizado”


08/08/2012 | 00:14 | KATIA BREMBATTI
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná e da ONG Mater Natura descobriu 15 novas espécies de sapos na porção de Mata Atlântica localizada entre o Sul de São Paulo e o Norte de Santa Catarina, região que inclui a Serra do Mar do Paraná. Como estão em processo de reconhecimento científico, os anfíbios ainda não foram “batizados”
A lista de 120 tipos de anfíbios que habitam as terras paranaenses terá um aumento considerável assim que o trabalho de descrição de 15 novas espécies – oito do gênero Brachycephalus e sete do Melanophryniscus – for concluído. Mas o processo ainda deve levar algum tempo: ao menos dois anos de trabalho árduo são necessários para cumprir os requisitos que levam ao reconhecimento científico.
Remédio em potencial
Cor forte indica toxina anestésica
Um dos argumentos geralmente usados para defender a importância da descoberta de novas espécies é que elas podem ter substâncias ainda desconhecidas pela indústria farmacêutica. Assim, evitar a extinção de grupos de animais e plantas seria uma forma de garantir o “estoque” de princípios ativos para curar doenças, por exemplo. No caso dos sapinhos descobertos na Serra do Mar, as cores vibrantes – amarelo, laranja e vermelho – indicam a presença de toxinas. São avisos aos predadores de que não vale a pena transformá-los em presa.
Apesar disso, os sapinhos não são venenosos para os seres humanos. Em alguns já foi identificada a tetrodotoxina, substância semelhante à encontrada no peixe baiacu. Trata-se de um potente anestésico.
Contudo, o pesquisador Marcos Bornschein critica o ponto de vista antropocêntrico, em que somente a utilidade que a espécie pode trazer para a humanidade é considerada. “Então quer dizer que se a espécie não pode ajudar o homem, então ela não importa, não tem direito de existir?”, indaga. (KB)
O pesquisador Marcos Bornschein tem experiência nesse processo. Ainda estagiário, em 1988, descobriu, pela primeira vez, uma espécie, que ganhou o nome de Brachycephalus pernix. Desde então, a existência de mais cinco espécies do gênero Brachycephalus foi oficializada. Com tantos números assim, parece que a descoberta de espécies é corriqueira. Mas não é. Só depois de 30 tentativas, em fins de semana e no prazo de seis anos, é que uma das espécies foi encontrada.
Bornschein não tem dúvidas de que muito mais espécies ainda anônimas e desconhecidas habitam a região litorânea do Paraná. Os sapos descobertos estavam em áreas montanhosas, mas com acesso possível por trilhas. Contudo, matas ainda não desbravadas não foram avaliadas. “Com mais três anos intensos de pesquisa é possível achar mais 10 ou 12 novas espécies desses grupos no Paraná e em Santa Catarina”, acredita. O trabalho conta com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Na semana passada, a Gazeta do Povo noticiou o reconhecimento científico da existência de outra espécie de sapo. O Brachycephalus tridactylus foi localizado por biólogos na reserva de Salto Morato, em Guaraqueçaba, no Litoral, em 2006, mas só agora entra para a lista oficial de espécies.
A forma como a Mata Atlântica evoluiu na região costeira paranaense contribui para a diversificação dos habitantes locais. Há bastante variação de altitude, numa pequena extensão de terra, com morros cercados por matas mais baixas. Algumas espécies não conseguem se deslocar de uma montanha para outra – nem viver em clima e vegetação de baixada – e então acabam ficando isoladas. Elas desenvolveram diferenças – quando comparadas aos moradores de morros vizinhos, por exemplo – e esses detalhes, que podem parecer mínimos, são alertas para a ciência, pois mostram como cada espécie se adaptou às mudanças ambientais
Fonte: www.gazetadopovo.com.br, em 08.08.201
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