domingo, 4 de agosto de 2013

A TRISTE CONEXÃO DA VIOLÊNCIA

                                                                                                                           Laelia Tonhozi*

 “Quando nos deparamos com um animal com risco de morte devido ao espancamento, lamentamos não apenas por eles, mas pelos humanos que poderão cair nessas mãos violentas. Violência gera violência.”  Regina Becker, Titular da Secretaria Especial de Direitos Animais de Porto Alegre.

A violência contra os animais era vista até recentemente como um mal isolado. Hoje, estudos levam à conclusão de que é necessário investir na educação humanitária, com valores biocêntricos, para a formação de cidadãos com condutas éticas que demonstrem valores não contaminados por preconceitos. E que ensinar a amar e respeitar os animais vai fazer mudar o mundo.

Entenda o porquê.
Estudos vêm demonstrando que a crueldade com animais é um sinal de alerta e uma mensagem de identificação de outros tipos de violência contra humanos, sobretudo contra idosos, mulheres, crianças e deficientes.

Em 1996, uma pesquisadora norte-americana fez estudos sobre a relação da violência de gênero com a crueldade contra animais. Chegou à conclusão de que num grupo de 38 mulheres alojadas em abrigos, vítimas de violência por seus companheiros, 71% das participantes da amostra relatam a ocorrência de ameaças, ferimentos ou morte de seus animais.

Num segundo grupo, com uma amostra constituída por 101 mulheres, os resultados indicaram um índice de 70,3% de narrativas de agressões contra animais, referendando os resultados anteriormente obtidos. (1).

Em pesquisa feita do Brasil, no Estado de Pernambuco, no ano de 2010, quando 500 mulheres foram entrevistadas, a Pesquisadora Maria Padilha chegou aos seguintes resultados: 71% das mulheres vítimas de violência doméstica, e que tinham animais de estimação, mostraram que seus parceiros ameaçaram, mataram ou feriram os animais da família, e 88% das famílias nas quais ocorreram crueldade contra animais, registram abusos físicos contra as crianças.

“Esta pesquisa também tem cunho educacional. É importante que pais e professores deem atenção às pequenas ‘maldades’ que as crianças comentem contra os animais, pois dessa forma a criança poderá desenvolver quadro de valores distorcidos com relação à vida”, disse Maria Padilha, que se inspirou nas pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Europa, e que comprovaram que pessoas violentas com animais podem ser violentas com seres humanos. “As pesquisas americanas comprovam que grandes seriais killers começaram suas ações matando animais”, finaliza Padilha. (2)

Reportagem na Folha de São de 12 de junho de 2013, nos dá conta de que nove pessoas com 60 anos ou mais são internadas por semana em hospitais públicos em razão de agressões físicas. (3)
Esta é só a ponta do iceberg!

Também é fundamental considerar os altos índices de violência registrados no ambiente familiar e escolar em diversas cidades brasileiras, de forma que estes indicadores também podem nos oferecer uma “logística reversa”, ou seja, os indicadores da violência de humanos contra humanos podem estar escondendo uma invisível violência de humanos contra animais.

Vamos mudar o mundo ? Que tal começar pelo respeito aos animais?


1- ASCIONE, F. R. Domestic violence and cruelty to animals. Latham Letter, v.17, p.13-16, 1996.
2- Padilha, M.J.S. Crueldade com animais X violência doméstica contra mulheres; uma conexão real. Recife, Fundação Antonio dos Santos Abranches, 2011.


*Laelia Tonhozi é educadora ambiental, membro do Movimento SOSBICHO e coordenadora pedagógica do Projeto Ponto Final no Abandono.

Nenhum comentário:

Postar um comentário